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Crítica: O Voo do Corvo

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o voo do corvoO Voo do Corvo segue a jornada de Neryn que pretende aperfeiçoar o dom de Voz e assim ser uma peça de grande relevância na luta contra um regime absoluto e tirânico que rege este reino de inspirações medievais, encantado e misterioso.

Neryn continua a provar que é muito mais do que uma jovem perdida e agraciada com um poder incomum. Ao longo da narrativa, é possível verificar que os dons da protagonista são constantemente colocados à prova. Juliet Marillier criou situações que fazem o leitor questionar-se sobre o que faria se estivesse naquele lugar, e surpreende ao mostrar como Neryn ultrapassa cada obstáculo. Muitas das resoluções não são aquelas que inicialmente poderiam ser esperadas e isso é agradável de constatar.

Com o início de trama, é possível ficar a conhecer melhor as personagens que compõe o grupo de Rebeldes assim como a sua forma de organização. O primeiro aspecto que salta à vista é a união que existe entre todos, apesar de sugerirem passados distintos mas sempre marcados pelo sofrimento da opressão. É ainda interessante observar que todos os membros possuem um papel fulcral para o bom funcionamento deste grupo, não havendo grandes diferenciações entre géneros. Talli é um bom exemplo de uma mulher que desafia as convenções esperadas para uma sociedade da época e acaba por ser também uma das personagens secundárias mais interessantes. Afinal, ela revela diversas dimensões, tornando-se bastante humana e cativando de forma lenta mas gradual.

Apesar de Neryn e Flint não estarem tão próximos fisicamente como no volume anterior, assiste-se a um desenvolvimento nesta relação. A força do sentimento que os une não deixa margens para dúvidas e, cada vez mais, se percebe que a atracão inicial transformou-se em amor. As formas de demonstração deste sentimento são diferentes, afinal, o casal principal continua a ter como prioridade a missão Rebelde.

É com curiosidade que se assistem aos momentos dedicados directamente a Flint, que nos levam a conhecer melhor a corte e o temível rei Keldec. Observar o comportamento deste agente infiltrado na corte e a forma como ele garante a confiança do monarca podem incomodar mas também propiciam momentos de grandes revelações. Nota-se claramente que este rebelde não se sente inteiramente confortável na sua missão, no entanto, está disposto, até mesmo a manchar o seu nome, para que os seus amigos tenham sucesso. Ainda sobre o rei Keldec, fica a ideia de que nem sempre é ele o responsável pelo regime tirânico, o que, sem dúvida, traz uma nova visão sobre tudo e faz pensar sobre o poder de vozes conselheiras.

O desenrolar dos acontecimentos deste livro acaba, no entanto, por ser o esperado desde o início. A nova jornada de Neryn tem objectivos muito concretos e é estimulante, mas o leitor desde cedo percebe até onde ela vai chegar ao longo destas páginas, para além de que o seu sucesso é inquestionável. Tudo isto faz com que a história não perca a ideia de que com esforço e dedicação tudo é possível, mas faz também perder a sensação de imprevisto e de quebrar um pouco a emoção da leitura. Contudo, mais perto do final, existe uma reviravolta capaz de surpreender e criar uma emoção diferentes.

Com o decorrer da narrativa, é inevitável constatar que Juliet Marillier foi inspirada na tradição druida. A ligação de Neryn com a natureza, o respeito por todos os seres, desde os mais fortes aos mais frágeis e as atitudes que demonstra perante cada provação remetem para o druidismo de uma forma mais realista do que fantástica e fazem transparecer os valores da autora.

O estilo de escrita utilizado pela autora continua a ser muito característico da autora. As palavras possuem uma beleza e mistério particular, o leitor é embalado para uma história que faz lembrar os contos tradicionais mais belos. É fácil entrar neste mundo e mais ainda de perceber as motivações e sentimentos das personagens. A autora, que gosta de se apresentar como contadora de histórias, continua a dar provas de que este género é a sua casa, e nós, leitores, somos sempre bem acolhidos neste espaço tão familiar e, curiosamente, irresistível.

A trilogia Shadowfell continua a dar provas do talento de Juliet Marillier. História mais simples do que aquelas que são constantemente exaltadas como as mais bem conseguidas da autora, é, no entanto, eficaz em transportar o leitor para um mundo de onde não apetece sair. Leitura muito agradável, com muitas revelações, momentos de encantar e perigos, que faz ansiar pela conclusão desta saga. – Cláudia Sérgio


Título original: Raven Flight (2013)

Autor: Juliet Marillier Tradução: Catarina F. Almeida Editora: Planeta (2013)


Filed under: Críticas Tagged: Juliet Marillier, Shadowfell

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